sexta-feira, 27 de março de 2020

Cidades Silenciosas


A cidade que antes estremecia com o vai e vem de carros e pessoas, se transformou num mar de silêncio...

Corpos que se tocavam num contato intimista de amor e cordialidade, se distanciaram dentro de suas próprias casas...

O céu que podia ser contemplado ao ar livre, agora era olhado das janelas, sem que se pudesse sentir o calor do sol que brilha lá fora...

A vida corriqueira, inundada de rotinas e afazes, deu espaço a um vazio grande, aprisionamento da nossa liberdade...

As relações, agora, eram virtuais, sorrisos, palavras, olhares, todos através de uma tela, sem sentir o calor do corpo de outrem...

Abraçar era tarefa impossível...

Afagar não estava nos planos de ninguém...

Os beijos tinham outro formato, fossem por beijos no ar ou cotoveladinhas que transmitissem o cumprimento...

A saudade, essa invadiu espaços inimagináveis e de proporção assustadoramente estranha...

Quando isso tudo acabar, quando não mais existir o limite entre nossos corpos, quando os cômodos de nossa casa não forem os únicos lugares que visitaremos nas 24 h de nosso dia, que possamos nos entregar mais...

Que possamos priorizar o contato físico, que possamos amar as pequenas coisas, que apreciemos a beleza das flores e tenhamos mais suavidade em contemplar o céu, ao invés de reclamar do calor que sol traz pros nossos corpos...

Que carreguemos de tudo isso que nossa morada maior precisava respirar, mas que nós precisávamos de aprendizado...

Precisávamos entender que o aqui e agora é um instante, que não volta, mas que é recheado de sentimento e detalhes que marcam nossas almas...

E depois que a tempestade passar, um arco-íris há de brilhar...

E poderemos voltar a sentar ao redor de uma mesa as quatro da tarde para tomar café com amigos e valorizar esse momento sem pensar que é a última vez que os veremos!