terça-feira, 29 de maio de 2018

Castanhe-se

Esses olhos castanhos... ávidos por conhecimento!
Esses olhos castanhos... curiosos!
Esses olhos castanhos... inundados de mistérios!
Esses olhos castanhos... emaranhados de amor!

É que no castanho do teu olho há uma beleza sem igual!
Esse teu jeito acastanhado de ser... traz firmeza e doçura!
É que de todos os olhos coloridos que vi, só encontrei verdade nos teus olhos de cores simples, mas genuínas!
Essa tua insistência em se acastanhar... traz ao mundo generosidade!

É que nos teus olhos castanhos existe uma profundidade que mar azul nenhum, jamais, conseguiu ter!
É que os teus olhos castanhos decifram verdades não ditas, como se fossem espiões sábios e certeiros!
É que teus olhos castanhos tem essa mania de serem lindos... porque brilham como o luar!
É que no acastanhado do teu olho... qualquer guerra vira paz!

Ah, castanha criatura de olhos vívidos de amor, se teus olhos pudessem receber nome, com certeza teriam nome de flor. Porque trazem beleza e encanto pros dias nublados.
É que com esse teu jeito meigo e ogro, mas todo acastanhado trazes alegria e serenidade por onde passas com esse teu... olhar!

Dia de Outono

O outono brindava um dia ensolarado e fresco, ao mesmo tempo. O dançar dos pássaros no céu traziam a sensação de liberdade, e seu canto era um bradar de vitória pros dias arrastados de saudade. Tranquei-me no quarto com a missão de trabalhar, de ocupar a cabeça, quem sabe assim a dor da distância resolvesse se ausentar por alguns instantes, é dolorido demais caminhar de mãos dadas com a nostalgia.

Como quem quisesse me afagar, uma borboleta azul invade o quarto, não se amedronta com as grades da janela, a prisioneira aqui sou eu, ela... ah, ela é livre como uma pluma no dançar da brisa. Pousa sobre meu dedão do pé esquerdo, e me encara com olhos tão negros quanto os meus; parece tentar me intimidar a dar um sorriso, é tão audaciosa e perspicaz, que arranca de mim um gargalhada, amenizando a linha enrugada de preocupação que pousa sobre minha testa.

O dia, que só estava começando, passa lento, arrastado, a saudade, ah a saudade... ela não dá trégua. Parece um daqueles senhores feudais que bate pé, e não cede a nenhum pedido do campesinato. Tolice é tentar acreditar que meu saudosismo abarcará rapidamente, ele está latente e atracado como um barco que espera a cheia retornar para sair do cais, enquanto isso, insisto em mergulhar nas leituras profissionais, de nada adianta.

O vento chacoalha as folhas das árvores secas pela época do ano, o som é mais ressonante que o normal. Vacilo em tentar admirar a paisagem, e num ímpeto de sensibilidade, lembro das gargalhadas em tardes ensolaradas num campo coberto de grama verde e úmida. A partir disso não sou mais dona de mim, as lágrimas não se contém, e saltitam dos olhos como se tentassem amenizar o misto de alegria e tristeza que lutam por espaço aqui dentro.

Quem dera por meros instantes, a saudade usasse de razão e trouxesse acalento ao invés de asfixia. Ela tem esse dom de ser necessária e repugnante, se há saudade é porque existe amor, cuidado, carinho; mas, ela tem essa dura personificação abrutalhada, que maltrata, machuca e só se dá por satisfeita quando ouve nosso pranto instintivo de alívio. Vai, saudade amiga, carrega contigo meu soluçar latente da alma, e no vapor de minhas lágrimas, entregue ao meu bem lembranças minhas dizendo o quanto é querido e que nesse peito ele faz morada, mesmo estando distante.