terça-feira, 29 de maio de 2018

Dia de Outono

O outono brindava um dia ensolarado e fresco, ao mesmo tempo. O dançar dos pássaros no céu traziam a sensação de liberdade, e seu canto era um bradar de vitória pros dias arrastados de saudade. Tranquei-me no quarto com a missão de trabalhar, de ocupar a cabeça, quem sabe assim a dor da distância resolvesse se ausentar por alguns instantes, é dolorido demais caminhar de mãos dadas com a nostalgia.

Como quem quisesse me afagar, uma borboleta azul invade o quarto, não se amedronta com as grades da janela, a prisioneira aqui sou eu, ela... ah, ela é livre como uma pluma no dançar da brisa. Pousa sobre meu dedão do pé esquerdo, e me encara com olhos tão negros quanto os meus; parece tentar me intimidar a dar um sorriso, é tão audaciosa e perspicaz, que arranca de mim um gargalhada, amenizando a linha enrugada de preocupação que pousa sobre minha testa.

O dia, que só estava começando, passa lento, arrastado, a saudade, ah a saudade... ela não dá trégua. Parece um daqueles senhores feudais que bate pé, e não cede a nenhum pedido do campesinato. Tolice é tentar acreditar que meu saudosismo abarcará rapidamente, ele está latente e atracado como um barco que espera a cheia retornar para sair do cais, enquanto isso, insisto em mergulhar nas leituras profissionais, de nada adianta.

O vento chacoalha as folhas das árvores secas pela época do ano, o som é mais ressonante que o normal. Vacilo em tentar admirar a paisagem, e num ímpeto de sensibilidade, lembro das gargalhadas em tardes ensolaradas num campo coberto de grama verde e úmida. A partir disso não sou mais dona de mim, as lágrimas não se contém, e saltitam dos olhos como se tentassem amenizar o misto de alegria e tristeza que lutam por espaço aqui dentro.

Quem dera por meros instantes, a saudade usasse de razão e trouxesse acalento ao invés de asfixia. Ela tem esse dom de ser necessária e repugnante, se há saudade é porque existe amor, cuidado, carinho; mas, ela tem essa dura personificação abrutalhada, que maltrata, machuca e só se dá por satisfeita quando ouve nosso pranto instintivo de alívio. Vai, saudade amiga, carrega contigo meu soluçar latente da alma, e no vapor de minhas lágrimas, entregue ao meu bem lembranças minhas dizendo o quanto é querido e que nesse peito ele faz morada, mesmo estando distante.

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